Quem mexeu no meu texto? O dono dele. 16/11/2005 15:48, Webinsider.
O redator publicitário não é dono do texto que escreve, mas deve saber defendê-lo dos pitacos do cliente, que nem sempre tem razão. Defesa com embasamento tem mais credibilidade.
Adriana Baggio
Você imagina que H. G. Wells, autor do clássico A guerra dos mundos, possa ter tido preocupações mesquinhas como pessoas mexendo em seus escritos? Difícil, mas provável. Foi ele quem disse que "nenhuma paixão no mundo é comparável à paixão por alterar os textos de outra pessoa". Até parece que ele era publicitário e estava fazendo piada sobre o cliente durante um happy hour com o pessoal da agência.
Esse vício incontrolável por mexer no texto alheio faz parte das características básicas da maior parte dos clientes. Eles não resistem a tirar ou colocar um adjetivo; trocar por um sinônimo pobre a palavra perfeita que você demorou horas procurando; inserir um clichê no texto que você lapidou com todo o cuidado.
Peraí: texto alheio? Mas o texto é do cliente!
Bem, a gente até entende que Wells tenha se sentido ofendido quando algum editor quis mexer em suas histórias. Afinal, a obra de um escritor é autoral, a razão dela se encerra no próprio texto. Diferente de um anúncio publicitário, onde o texto é parte de um todo, e a razão desse todo não está em si mesmo, mas nos objetivos pré-determinados que deve ajudar a alcançar.
Por mais que o seu nome, redator, esteja nos melhores anuários de criação, a grande maioria dos leitores do texto que você escreveu para um anúncio nunca vai saber que o autor daquela brilhante sacada é você. Sua assinatura não vai aparecer. No máximo, a assinatura da agência. Mas o grande "autor" daquele texto é o anunciante. É quase como se o redator fosse um ghost writer. O cliente paga para você escrever o que ele vai dizer ao consumidor.
Essa é a realidade, às vezes meio dura de engolir. Os redatores publicitários têm uma relação umbilical com seus textos. Normalmente, porque são apaixonados pelo que fazem. Algumas vezes, porque o ego se materializa na escrita. Não importa o motivo dessa relação. Qualquer pitaco de cliente na cria dos redatores dói como ataque à integridade de um rebento.
É preciso reconhecer que, algumas vezes, o cliente tem razão. Em outras, porém, os pitacos podem parecer pura implicância ou um desejo irresistível de dar o toquezinho dele no texto. Quando esses palpites não agregam nada e até prejudicam a peça, é preciso tentar contê-los. Essa é uma tarefa do atendimento no momento da apresentação, mas também do redator ao embasar e defender sua criação.
O cliente precisa confiar nos criativos que trabalham para a sua conta. E confiança se conquista com embasamento técnico, quando a gente mostra que sabe o que está fazendo. O perfil do criativo pirado, viajandão, que defende qualquer idéia com expressões como "é uma grande sacada, você não tá vendo?", está em extinção. É preciso compreender o negócio do cliente, ter noções de marketing e, principalmente, entender tudo da matéria-prima das suas criações: a língua.
Bons redatores sabem que se aprende a escrever lendo. Lendo de tudo, de bula de remédio a tratados filosóficos. É nas leituras que nada têm a ver com publicidade que aparecem as técnicas que utilizamos no texto publicitário. A sacadinha genial que você colocou no anúncio provavelmente tem nome, sobrenome e história de família – na literatura, na poética, na semiótica. Conhecer essa "genealogia" das técnicas de redação publicitária faz toda a diferença na hora de elaborar – e defender – um texto.
A defesa criativa com embasamento é sólida e tem muito mais credibilidade. Prova que você sabe do que está falando, que não se trata apenas de uma piração de criativo. Por exemplo: quando se defende um título explicando que foi usada uma metonímia e que essa figura de retórica é ideal naquele caso, porque mostra da melhor maneira o todo através de uma de suas partes (e um anúncio normalmente não tem espaço para apresentar o todo, só partes), entende-se que o criativo tem o conhecimento e a técnica necessários para realizar seu trabalho.
Mas a gente sabe que, na prática, a teoria é outra. Em alguns casos, mesmo que você tenha o mais sólido dos argumentos, seu texto vai ser impiedosamente detonado. Nesta situação, relaxe e faça como os budistas: exercite o desapego.[Webinsider]

"And the Esso goes to..."

Nada como um Esso após o outro. Na última terça-feira, dia 13 de dezembro, estive no 50º Prêmio Esso de Jornalismo, no Hotel Sofitel, em Copacabana, Zona Sul do Rio. Em princípio, decidi não escrever nada a respeito, mas dada a importância do cinquentenário da premiação, resolvi comentar essa que foi a minha primeira experiência em cerimônias oficiais da imprensa brasileira neste ano que passou. Mais do que estar entre os grandes do jornalismo e do telejornalismo nacional, foi tentar compreender a importância desta premiação aos indicados da noite.
Dois pontos a serem destacados: a reprodução da última transmissão, "ao vivo", do 'Repórter Esso' no rádio, no longinquo 31/12/68 e a vaia ao ex-deputado Roberto Jefferson, ao ser citado no discurso de agradecimento do Prêmio Esso de Jornalismo 2005, a jornalista Renata Lo Prete, com seu trabalho "Denúncia do mensalão", publicado no jornal Folha de S. Paulo.
Tirando o serviço do buffet que não estava lá muito "antenado", o salão de convenções estava lotado e pude perceber que, salvo uma que outra surpresa (como o Prêmio de Fotografia - o vencedor foi Evandro Monteiro, com o trabalho "Guerra no Centro", publicado no jornal Diário do Comércio (SP) - desbancando o trabalho do olhar fulminante do José Dirceu contra o Roberto Jefferson), todos os agraciados da noite foram muito bem aplaudidos e avalizados.
O grande contemplado foi o jornalista Fábio Gusmão, que além de ter arrebatado o Prêmio de Reportagem, com seu trabalho "Janela Indiscreta", publicado no jornal Extra, ainda foi sorteado com umas das passagens aéreas internacionais, oferecidas aos jornalistas convidados ao Esso.
De mais a mais , nesse 2005 que passou, muito se foi feito, apurado e denunciado, com escândalos, chacinas, desvios e denúncias. E nada como estar presente ao evento que, há 50 anos, vem sendo ponto de referência aos profissionais que buscam excelência e imparcialidade nas coberturas jornalísticas.
A oportunidade foi ímpar para conhecer melhor os bastidores da notícia, o tipo de trabalho valorizado pelo júri especializado e estreitar os laços de convivência com a nata do jornalismo.
Ah, já ia me esquecendo: congratulações ao Celso Freitas também, que além de ter apresentado o Prêmio Esso com elegência e categoria, posou para as fotos na entrega do Prêmio Especial de Telejornalismo, juntamente com a equipe do programa Domingo Espetacular (do qual ele também é apresentador), veiculado pela Rede Record, com o trabalho "Imbroglione - o cidadão fantasma".
Por João Paulo Anzanello
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