Opinião pública é uma expressão frequentemente utilizada tanto pelos homens políticos como pelos jornalistas, mas a sua realidade é problemática, e os seus contornos imprecisos e fluidos. Distingue-se tanto das opiniões individuais ou grupais como da vontade popular.
A opinião pública distingue-se claramente das opiniões dos indivíduos e dos grupos pelo fato de o seu emprego possuir uma vida própria, independente daquilo que pensa e quer cada um dos cidadãos, de se lhes impor e de não implicar a mesma adesão nem igual força mobilizadora. Ao contrário das opiniões individuais, que podem levar os indivíduos a tomar partido e a deixarem-se envolver afetivamente, a opinião pública não implica qualquer espécie de adesão nem impõe qualquer espécie de envolvimento pessoal. Distingue-se da vontade popular pelo fato de a sua fonte não residir no entendimento constante e duradouro do povo em torno de objetivos comuns, nem se manifestar com o mesmo grau de intensidade e permanência. A vontade popular vincula o conjunto dos cidadãos que a tomam como referência. A opinião pública não mobiliza nem se impõe com caráter de obrigatoriedade, é objeto de discussão e pode até sobreviver ao distanciamento de uma parte significativa da população. Por isso, é mais fácil defini-la negativamente, pelo que ela não é, do que positivamente. Apresenta, no entanto, duas características principais: o anonimato e a natureza estatística da sua manifestação.
É o anonimato da opinião pública que faz com que os indivíduos nem sempre se reconheçam nela e que a toma suscetível de ser utilizada como dispositivo de legitimação. É por isso uma espécie de corpo sem rosto. Porque não é propriamente de ninguém, pode impor-se a todos com a força do bom senso e do senso comum.
Prof. Adriano Duarte Rodrigues
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