Prezados, não venho aqui encher lingüiça nem esbanjar uma eloqüência inconseqüente. Estou tranqüilo quanto ao papel que venho desempenhando na sociedade, da qual tenho sido vítima com freqüência de ataques. Não sou menino. Vivi e vi muito. Desde 43 que perambulo por estradas e ditongos da vida. Que o diga o U, este grande amigo a quem não me canso de garantir que tenha voz neste mundo de crescente exclusão. Também o diga o Müller, outro grande defensor de minha carreira, bem como todo o nobre povo alemão, este sim um apreciador do chucrute, da música clássica e do legítimo trema germânico.
Ao ver decretada assim minha expatriação, penso nesse povo sem memória e sem afeto. Desterraram seu último e apaixonado imperador e agora me trocam por kas, dáblius e ipsilones, representantes do imperialismo saxão. Sempre suspeitei que minha morte ou exílio estava sendo há décadas tramada por alguém. Não sabia se pelos comunistas, pelos socialistas, pelos capitalistas ou pelos fãs de Marilyn Manson. Agora eu sei. Foram os dáblius, esses vês pervertidos que sempre andam de mãos dadas, em plena luz do dia. Caracteres pederastas, esses dáblius.
Espanta-me a hipocrisia destes mesmos abraçadores de árvores, defensores da ecologia e do seqüestro de carbono, tirarem dessa forma o acento e o acalanto dos pingüins. Agora eles têm de agüentar. Por um, por dez ou por cinqüenta anos. Até o fim de tudo. Verão, na pele, a falta que um trema faz, delinqüentes ortográficos, seres de índole eqüina. Vou-me. Partirei de volta ao velho mundo, onde ainda há espaço para tremas, lamparinas e fados tristes. “Saio desta vida para a ubiqüidade.”
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