O termo Web 2.0 não soa bem quando usado para benefício privado, ao invés de defender os valores por trás do conceito. Sempre existiu a característica que diferencia a internet das mídias tradicionais.
Por Juliano Spyer
Logo que comecei a ouvir falar em Web 2.0, imaginei uma espécie de condomínio virtual privado – um espaço desenvolvido por mega-corporações, acessível por um canal diferenciado do da internet comum, funcionando como uma plataforma de publicação mais controlada e protegida e oferecendo soluções de e-commerce e vantagens para usuários com acesso rápido. Nada disso.
Na verdade Web 2.0 se refere a uma relação de características que supostamente diferenciam novos sites daqueles que naufragaram com o estouro da bolha da internet na virada do século. Defensores do termo dizem que ele identifica sites de networking social, ferramentas de comunicação, wikis e etiquetagem eletrônica (tags), baseados na colaboração e que entendem que a natureza da rede é orgânica, social e emergente.
Por esse motivo alguns críticos consideram que o nome Web 2.0 vem sendo aplicado indiscriminadamente como sinônimo de originalidade tecnológica para entusiasmar possíveis clientes e investidores. A associação vaga entre “2.0” e a idéia de inovação abre precedente para que, por exemplo, um projeto comum que inclua um blog seja promovido como Web 2.0 pela equipe de vendas encarregada de oferecer a solução. Ao invés de defender os valores por trás do conceito, o nome passa a ser usado para benefício privado.
Para Clay Shirky, um estudioso dos efeitos sociais e econômicos dessas novas tecnologias, “antes da internet, as diferenças na comunicação entre comunidade e audiência eram fundamentalmente determinadas pela mídia – telefones serviam para conversas de um-para-um, mas não serviam para atingir rapidamente um grande número de pessoas, enquanto a TV tinha características inversas. A internet pôs fim à separação, oferecendo um mesmo veículo para ser usado para falar com comunidades ou audiências.”
Essa característica, que permite que aconteça a colaboração online, surgiu junto com a comunicação via computadores em rede nos anos 1970, nos primórdios da internet. Em meados de 1990, na transição da internet de nicho (voltada a entusiastas da computação) para a internet acessível ao usuário comum, os sites incorporaram temporariamente características da mídia de massas convencional, mas o estouro da bolha na virada do milênio corrigiu esse desvio de trajetória.
As vantagens do conteúdo gerado em ambientes colaborativos determinaram a sobrevivência de sites como Amazon.com e Craigslist, e produziram a fundação para o desenvolvimento de projetos como Google, Wikipédia, Orkut, YouTube e Second Life. Considerando a comunicação de duas vias de várias ou muitas pessoas entre si como o elemento diferenciador da internet em relação às tecnologias de mídia precedentes, não houve quebra de paradigma que justifique a denominação Web 2.0. Mídia social e internet colaborativa descrevem mais precisamente a característica que diferencia a internet das mídias tradicionais.
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